O poder local na resolução dos problemas globais
São várias e ostensivas as
questões que se instalam na vivência atual das sociedades e atingem todo o
planeta. Refiro-me, nomeadamente, ao terrorismo, à crise dos mercados
financeiros, à urbanização desregulada, à exploração excessiva de recursos
naturais, à destruição da biodiversidade, à pobreza, às
dificuldades no acesso à saúde, à educação, à cultura e à água potável, às
desigualdades de género, e ao aquecimento global. Isto só para aflorar uma pequena
parte dos assuntos que a todos afligem.
Estas agruras globais que ferem o nosso mundo resultam, no fim de contas, da soma de muitas parcelas, da adição de inúmeras atuações locais e pessoais.
É um facto comprovado que, ao longo do tempo, todos nós e de vários modos, temos contribuído para a destruição da Terra. Mas, paulatinamente, fomos também criando uma certa sensibilidade para perceber o espaço que nos rodeia e o efeito dos impactos das nossas ações individuais e coletivas, a curto, médio e longo prazo.
Estamos num tempo em que essa perceção
se vem tornando cada vez mais evidente, é certo. Mas não basta ter conhecimento
de que os problemas existem, é preciso agir, sobretudo a nível autárquico, de
forma a resolvê-los ou, pelo menos, a mitigá-los.
É com essa nova consciência que todos
teremos de atuar e trabalhar para
alcançarmos o almejado e imprescindível desenvolvimento sustentável, que, como
se sabe, há de assentar no equilíbrio e na criação de valor nos domínios
económico, ambiental e social, gerando-se, através das necessárias parcerias,
um panorama que permita o funcionamento e a expansão das comunidades, e dos
seus habitats, no presente, sem comprometer o futuro.
Foi
com base nesta necessidade imperiosa que os países-membros da Organização das
Nações Unidas aprovaram, em setembro de 2015, “A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”. Este
documento que propõe medidas concretas para alcançar um mundo mais justo, próspero e ecológico, é formado por
17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), por 169 metas, e assenta em
5 pilares, interligados e de igual valor, os chamados 5 Pês:
P de Paz; P de Pessoas; P de Planeta; P de Prosperidade; P de Parcerias.
O
conjunto dos ODS representa, nas palavras da própria ONU,
“(...) a visão comum para a Humanidade, um contrato entre os líderes mundiais e
os povos”, uma lista das coisas a fazer, até 2030, em nome das pessoas e do
planeta.
Essa lista inclui, nomeadamente, a erradicação
da pobreza e da fome, uma saúde e educação de qualidade, o acesso universal e
equitativo à água potável e ao saneamento, igualdade de género e o
empoderamento de todas as mulheres e raparigas, a redução das desigualdades no
interior dos países e entre países, aumento significativo de energias renováveis e
acesso a preços reduzidos a esses serviços, crescimento económico com trabalho
digno, aposta na industria, inovação e infraestruturas, cidades sustentáveis
com direito à habitação adequada e a transportes seguros, produção e consumo,
sem comprometer o uso eficiente dos recursos naturais, ação climática, proteção
da vida marinha e da vida terrestre, paz, justiça e instituições eficazes, e a
realização das parcerias necessárias para a implementação dos diversos ODS.
A
própria ONU, no entanto, avisa que estamos muito atrasados na tomada de medidas
concretas (tanto a nível individual como coletivo) e de que, se não corrermos,
não chegaremos a tempo de sarar a nossa admirável esfera azul.
Os
problemas globais exigem, assim, soluções também globais, de extrema urgência,
que podem ser descobertas na referida Agenda.
Mas é a nível local que muitas destas
respostas, globais, têm de ser procuradas e concretizadas.
É por isso que teremos de contar com autarcas
sábios,
criativos, arrojados, mas reflexivos e atentos, cientes de que os perigos que assolam o mundo atingem,
do mesmo modo, o seu concelho. Mas que, ao mesmo tempo, entrevejam que os
territórios que administram, através da sua atuação e da sua ação mobilizadora
e de contágio, são também parte da cura. E isso deverá ser encarado não como um
fardo, mas como um sinal de esperança, um sentir que está nas suas e nas nossas
mãos o poder de resgatar o planeta.
Os desafios que se colocam aos autarcas do
presente são inúmeros, no entanto, nessa demanda, devem guiar-se pela “Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável” da Organização
das Nações Unidas, sempre com sentido democrático e exaltação do
pluralismo e da liberdade de expressão, de pensamento e de opinião, gerindo as
diferenças com um apurado sentido de inclusão baseado no conceito de
interculturalidade e de respeito por todos os direitos humanos (sejam eles de
primeira, de segunda ou de terceira dimensão).
Sem nunca esquecer que cada um de nós tem de
ser o espelho da mudança que propõe.
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