O NATAL CALDENSE E A POLUIÇÃO LUMINOSA



À luz artificial excessiva, emitida sobretudo pelos grandes centros urbanos, chama-se poluição luminosa.
Este conceito começou a ganhar visibilidade a partir da década de 80 do século XX, quando astronautas estadunidenses desencadearam alertas e manifestações de descontentamento pelo facto de, por conta da desmesurada e incorreta iluminação pública noturna, usada na Terra, terem perdido a visibilidade da via láctea. Como se compreende, a extravagante claridade artificial, que se espalha em direção ao céu, ofusca a nossa visão do universo.
Mas não é apenas a pesquisa e a observação das estrelas que fica prejudicada. A poluição luminosa origina também efeitos nefastos na saúde humana e nos ecossistemas, além de se traduzir num enorme desperdício de energia elétrica (gerada à custa do consumo de recursos naturais, a maior parte das vezes não renováveis, e poluentes no seu uso e exploração) e, consequentemente, de dinheiro (verba que poderia ser canalizada para ações de impacto social e económico relevante).
Vários projetos mundiais têm vindo a ser lançados com o objetivo de alertar as comunidades para a importância, do céu noturno natural, no desenvolvimento dos povos e da conservação da biodiversidade. De entre eles destaca-se o programa da UNESCO denominado “Reservas da Luz das Estrelas”, e também a “Declaração para a Defesa do Céu Noturno e para o Direito à Luz das Estrelas,” elaborada nas Canárias, em 2007, por várias instituições e organizações internacionais, como a UNESCO, a União Astronómica Internacional, o Observatório Europeu do Sul, a Associação Internacional Dark-Sky, e a Organização Mundial do Turismo, onde a temática em apreço é encarada como património da humanidade, e o direito a contemplar o firmamento é assumido como universal e inalienável.
Tudo isto não quer dizer que não podemos utilizar a iluminação artificial, significa apenas que o devemos fazer de modo eficiente e na medida do necessário.
Se a luz é, de diversas maneiras, incorretamente usada no dia-a-dia das nossas cidades (veja-se, a título de exemplo, o facto de muitos candeeiros públicos projetarem a claridade para o céu em vez de o fazerem em direção ao solo) o que dizer dos milhares de lâmpadas que, todos os anos no período natalício, entre novembro e janeiro, atravessam as ruas, praças e avenidas de qualquer urbe?
A poluição luminosa que produzem é escandalosa e altamente desnecessária.
Com o mesmo propósito, vários centros urbanos plagiam-se e repetem a receita: Luzes deslumbrantes que aquecem os corações, espantam os olhos e renovam intenções de voto. Mas toda esta sofisticação luminosa, assim disseminada e vulgarizada, deixa de ser uma marca diferenciadora das localidades.
Caldas da Rainha foi pioneira na instalação de luzes Natalinas de dimensão espetacular. Gostaria agora de a ver ser precursora na procura de novos sinais distintivos, capazes de atrair visitantes (com as supostas vantagens associadas, no comércio e na industria), mas por via da implementação de regras de iluminação inteligente, de qualidade e de despoluição luminosa, numa relação de equilíbrio, e ganhadora, entre ambiente, economia, turismo e astronomia.
A nível internacional alguns locais já conseguiram alcançar tal desiderato, bastar-nos-ia, portanto, seguir-lhes o exemplo.
Até lá, a minha sugestão para este Natal é de que “apaguem as luzes e acendam as estrelas”.

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