Carolina Couto: Uma alma grande demais
Lembro-me bem do dia em que, no verão quente de
2006, ela entrou na livraria Martins Fontes Portugal, nas Caldas da Rainha. Não
a reconheci de imediato, foi a voz que a denunciou.
Num tom certeiro e seguro, de quem gosta de se
fazer ouvir quando fala, pergunta qualquer coisa a uma das funcionárias. Apesar
das mudanças físicas que a passagem do tempo (embora pouco) nos incrustou, não
tive dúvidas. Tratava-se da Helena.
Tínhamos sido colegas na Faculdade de Direito da
Universidade de Coimbra. Por uma questão de ordem alfabética, encontrávamo-nos
frequentemente nas provas orais. Mantínhamos, na altura, uma relação de
respeito e de cordialidade, mas não éramos chegadas.
Após o términus da licenciatura, ainda fizemos juntas,
em 1995 em Coimbra, a primeira parte de estágio em advocacia. Depois, deixei de
a ver.
Apesar de nos tempos da faculdade não termos sido
próximas, não integrarmos o mesmo grupo de amigos, e não revelássemos os mesmos
interesses, sempre a guardei na memória, e no coração, como sendo uma boa
pessoa. Foi por isso que, 11 anos mais tarde, fiquei tão feliz por a ter
reencontrado.
Helena estava casada e tinha duas filhas, uma com
8, outra com 5 maravilhosos aninhos. A Carolina e a Rita, duas pequenas princesas
que gostavam de ler.
Tornamo-nos, a partir daí, verdadeiras amigas e
confidentes, daquelas com quem reciprocamente se pode contar.
As crianças foram crescendo, e, algumas vezes por
contacto direto, outras através de longas conversas telefónicas - que entravam
pela noite dentro - com a minha querida Helena, sempre acompanhei os seus
percursos pessoais e académicos.
Já estavam ambas na faculdade, e, a mais velha,
finalista, iria no início do ano letivo estudar para Praga no âmbito do
programa Erasmus. Estas eram as notícias mais recentes.
Na semana passada, em data que apaguei da
lembrança, ouço ao meu lado um murmúrio que diz: Passa-se alguma coisa com a
Helena!
Levanto-me e pergunto: Como assim...?
A resposta veio rápida, impensável, imprevisível,
improvável, como uma pedrada que nos atordoa e arrasa:
A Carolina morreu!
Dizem-me agora que a Carolina partiu porque era
grande demais, a sua alma era gigante e não cabia no seu corpo. Eu acredito, e
faço-o não só porque me conforta, mas porque a realidade não o desmente.
Isabel Alves Pinto
Isabel Alves Pinto
Que Deus a guarde no lugar que nos desejamos,e conforte a família.
ResponderEliminarSim, acredito tb que há almas demasiado grandes para nós. Há seres grandes cuja passagem por cá nos toca e ilumina de diversas formas. Haja abertura e nobreza suficiente para apreendermos a sua presença e suas acções!
ResponderEliminarPaz a sua alma...
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